O NOTAS BACANAS REPRODUZ ABAIXO UMA ENTREVISTA FEITA PELO COLUNISTA REINALDO AZEVEDO DA REVISTA VEJA.
AÉCIO: "QUEM AINDA ACREDITA QUE DILMA CONSIGA LIDERAR O PAÍS CONTRA A CRISE?"
“Não estou cobrando ato de contrição de ninguém, mas quem faz um pacto com a população, e eleição também é isso, tem de dizer, quando menos, o que estava errado no diagnóstico e nas promessas feitos durante a campanha. Ou a política passa a ser apenas a arte da enganação”
Telefonei na
noite desta terça-feira para o senador Aécio Neves (MG) para saber como
o presidente do maior partido de oposição analisou o pronunciamento de
Dilma Rousseff. De saída, Aécio responde: “Sempre é melhor conversar com
o Congresso do que tentar cooptá-lo, o que tem sido a prática
permanente do PT. Mas a conversa tem de ter um objeto”.
Indaguei se o
senador tinha identificado, então, qual era o objeto da fala de Dilma.
“De concreto, deu para entender que ela quer a volta da CPMF, e me
parece que a reação do Congresso foi bastante eloquente. Ela não poderia
esperar aplausos”.
O senador
lembra que Dilma está no cargo há pouco mais de um ano e se elegeu
dizendo que não aumentaria a carga tributária, sendo explícita na recusa
à CPMF. Será que ele quer um mea-culpa? “Não estou cobrando ato de
contrição de ninguém, mas quem faz um pacto com a população, e eleição
também é isso, tem de dizer, quando menos, o que estava errado no
diagnóstico e nas promessas feitos durante a campanha. Ou a política
passa a ser apenas a arte da enganação”.
O senador
afirma ainda: “Dilma não pode querer agora que o Congresso traia o povo
em lugar dela. Ou será que fica bem vencer a eleição com uma promessa e,
depois, esperar que deputados e senadores sem encarreguem de
quebrá-la?”.
É, não fica bem.
Observo que o
discurso da presidente no Congresso chega quase a pedir que se deixe a
política de lado em nome dos interesses nacionais. O senador observa: “É
curioso porque a presidente que pretendeu se mostrar não partidária
está repetindo o discurso do seu partido nas inserções no horário
político. Trata-se de uma tática. Quem apela a esse discurso parece
aspirar ao monopólio da representação legítima. Então não se pode
discordar do governo e, ainda assim, defender os interesses do país? Não
me parece que o governo e o PT sejam bons exemplos de defesa do Brasil e
de seu patrimônio. O descalabro na Petrobras fala por si”.
É, fala, sim!
Dilma
defendeu também a reforma da Previdência. Este escriba está entre
aqueles que a consideram necessária e urgente. Se Dilma também diz
querê-la, não é hora, então, de apoiar o governo ao menos nisso?
Aécio dá uma
resposta que me parece correta porque ancorada na história: “A
presidente vai apresentar um texto a respeito com o apoio unânime de sua
base? Ou, mais uma vez, eles vão cobrar a colaboração da oposição,
enquanto o PT, por exemplo, faz campanha contra a proposta oficial?”.
O senador
tucano tem razão. Nos primeiros tempos do governo Lula, em 2003, o PSDB e
o então PFL apoiaram medidas que não eram exatamente populares, mas que
se mostravam necessárias. A oposição maior partiu justamente das
franjas do petismo, sobretudo nos ditos movimentos sociais e nos
sindicatos.
Então foi
uma fala inútil? Aécio responde: “Reitero que conversar com o Congresso e
buscar a interlocução, por si, são práticas corretas. O que é um tanto
patético no discurso da presidente é que, mesmo para falar em nome dessa
união nacional, não há nem sequer uma agenda sobre a qual se possa
debater um consenso mínimo. Pareceu-me que a fala de hoje [ontem] quer
só marcar uma eventual mudança de estilo, mas não de substância”.
Lembro que
os governistas acusam a oposição de também não ter projeto. Aécio
responde: “Nós apresentamos nosso projeto e nossas propostas em 2014.
Fomos derrotados numa disputa em que o adversário recorreu a táticas que
não podem deixar ninguém orgulhoso. Nunca apostamos no ‘quanto pior,
melhor’, mas governar é tarefa de quem venceu a disputa. O que sustenta
as democracias no mundo são os partidos de oposição, com a sua
vigilância. E cumpriremos o nosso papel. Também fomos eleitos. Mas para
ser oposição”.
“Isso não é
política do quanto pior, melhor?” Aécio responde: “Não! É a política do
quanto mais claro e mais honesto, melhor. Quem desestabilizou Joaquim
Levy, ex-ministro da Fazenda, não foi o PSDB, não foram as oposições.
Quem pedia abertamente a sua cabeça eram membros da cúpula petista e
alguns aparelhos ligados ao partido. Se um governo não sabe o que quer,
tem ao menos de saber o que não quer. Parece-me que eles não sabem nem
uma coisa nem outra”.
E o
impeachment? “Nós entendemos que a presidente cometeu crime de
responsabilidade. E a Constituição é bastante clara a respeito. A base
jurídica está dada. Tanto é assim que o Supremo fez a sua proposta de
rito. Não me parece que a Corte iria estabelecer os parâmetros de um
golpe. Mas o impeachment tem uma dimensão que é também política”.
E o senador
emenda: “Quem ainda acredita que a presidente reúna as condições
políticas para liderar o país num esforço contra a crise? Acho que
ninguém. Nem os petistas. Não pensem que digo isso com satisfação. O
preço do desgoverno é muito alto e pune sobretudo os mais pobres”.
E Aécio
cita, para encerrar, como evidência desse desgoverno o transe em que
vive o país por causa do Aedes aegypti. “Era a hora de a presidente
realmente liderar uma campanha nacional, mas começando por mudar os usos
e costumes do seu próprio governo. A esta altura, com as ameaças
representadas pelo vírus Zika, o Ministério da Saúde deveria ser um
exemplo de corpo técnico, sem apaniguados, apadrinhados e
correligionários políticos. Não me parece que seja o caso”.
É, não é o caso.
Mas, afinal, o que então é aquilo no Congresso? A resposta de Aécio: “Chama-se tática de ocupação do noticiário. E mais nada”.
Fonte: REVISTA VEJA
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