NOTAS TUCARIOCANAS
O Rio precisa reencontrar-se com seu destino, por Carlos Osório
O que afeta a cidade do Rio de Janeiro, automaticamente, afeta todo Estado do Rio pela importância da capital e sua conexão com a região metropolitana e o interior do Estado. Andar pelo Rio, fazer reuniões abertas para ouvir a população, convidá-la para discutir e avaliarmos, em conjunto, o que acontece no Estado do Rio e os caminhos futuros para o momento da grave crise que enfrentamos – esta tem sido nossa rotina.
O que se ouve, de maneira unânime em todas as partes da cidade, é muito claro: a crise, que se abate de forma gravíssima sobre o Estado do Rio de Janeiro, tem levado ao desespero familiares e os próprios servidores aposentados e pensionistas.
Todos os dias chegam, à porta da nossa Assembleia Legislativa, representantes de órgãos, autarquias, instituições públicas declarando falência, pedindo socorro, pedindo ajuda.
Infelizmente, não temos sinalização clara que saída para a crise atual o governo do Estado pretende apresentar à sociedade. Vivemos de band-aid em band-aid, de puxadinho em puxadinho, de pedalada em pedalada, de gatilho em gatilho, e não há mais margem de manobra para isso.
Existe, também, a percepção e a consciência de que a propaganda oficial teima em dizer que a situação da cidade do Rio de Janeiro é uma maravilha, mas de fato não é. Porque os serviços públicos municipais não estão funcionando adequadamente, com problemas em todas as áreas.
Numa reunião aberta no bairro de Jacarepaguá, o mais populoso da nossa cidade, com mais de 600 mil habitantes, o bairro que mais cresceu no Rio de Janeiro nos últimos anos, percebemos que esse crescimento trouxe com ele diversos problemas e dificuldades.
Na segurança pública, a ausência da Guarda Municipal; na saúde e na educação públicas, decisões erradas tomadas pelos gestores municipais; o colapso na área de transportes. Um sem número de problemas, em todo o bairro de Jacarepaguá: na Praça Seca, Tanque, Curicica, Taquara, Freguesia, Pechincha, Cidade de Deus, Rio das Pedras. Os relatos dos moradores são impressionantes. A população pede socorro ao poder público, um posicionamento claro e uma mudança de direcionamento por parte da prefeitura. Não pode mais haver uma única agenda no Rio de Janeiro. Hoje é apenas a dos jogos olímpicos.
Faltam pouco mais de 30 dias para sua realização e é nossa obrigação fazer todo o possível para seu sucesso. Não é de interesse do Rio nem do Estado do Rio torcer contra os jogos olímpicos. O legado, na área de transportes, vai ser importante, mas temos enormes oportunidades perdidas na maioria das áreas. Temos que olhar para depois dos jogos olímpicos.
O que a população se pergunta é: o que acontecerá com Jacarepaguá, com o Rio todo, no dia seguinte ao encerramento dos jogos, quando as luzes se apagarem e quando os atletas derem tchauzinho para nós? E nós ficamos sozinhos aqui com que agenda? O que foi feito olhando para o futuro?
Hoje só uma coisa interessa à prefeitura do Rio: grandes obras, grandes intervenções. Cuidar dos bairros e da população deixou de ser prioridade nesta cidade há muito tempo. E isso tem que ser invertido. Menos obras e mais pessoas.
Em vez de construir, colocar para funcionar adequadamente o que já existe. O que ouvimos, de maneira muita clara, em Jacarepaguá e em outros lugares, é que precisamos mudar essa orientação, e nos reconectarmos com as pessoas. A prefeitura precisa humanizar-se, sair do Olimpo, descer ao chão e ouvir as pessoas, a população e a cidade.
Lamenta-se que a administração municipal não esteja conectada e atenta. A população está certa do que quer e do que precisa: nova orientação, mais humanidade, capacidade de resolver os problemas, pé no chão, olho no olho, com propostas e, principalmente, com um plano de mudar as prioridades para que o Rio possa reencontrar-se com seu destino.