A CARNE É FRACA...
JBS e BRF vendiam carne vencida com química e frango com papelão
São Paulo –
JBS e
BRF,
duas das cinco maiores exportadoras do país, reconhecidas como as
maiores empresas de carne do mundo, exemplos de sucesso empresariais
inegáveis e da pujança econômica do Brasil nas últimas décadas são,
hoje, alvo da
Operação Carne Fraca.
Além delas, outros frigoríficos, grandes e pequenos, como Big Frango e Peccin, aparecem na decisão.
O nome escolhido pela Polícia Federal não
poderia ser mais literal. A investigação revelou que as companhias
usavam em suas operações carnes podres com ácido ascórbico para
disfarçar o gosto, frango com papelão, pedaços de cabeça e carnes
estragadas como recheio de salsichas e linguiças, além de reembalar
produtos vencidos.
Trata-se da
maior operação já realizada na história da PF,
segundo a instituição, com mais de 1.100 policiais mobilizados em seis
Estados (Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas
Gerais e Goiás) e no Distrito Federal.
Entre os presos, executivos das duas companhias e
fiscais do Ministério da Agricultura. A investigação aponta que os
frigoríficos tinham influência para escolher os servidores que iriam
efetuar as fiscalizações na empresa, por meio de
pagamento de propina.
Roney Nogueira dos Santos, gerente de relações
institucionais e governamentais da BRF, e o vice-presidente José Roberto
Pernomian Rodrigues (que já
havia se envolvido em um escândalo anterior, na Cisco) estão na lista.
As ordens foram expedidas pela 14ª Vara da
Justiça Federal de Curitiba (PR) e orientam 38 de prisão (27 preventivas
e 11 temporárias), 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão
locais supostamente ligados ao grupo criminoso.
Carne podre
A informação de que ao menos um dos dois
frigoríficos
usava carne pobre em seus produtos está na decisão da Justiça Federal
do Paraná e foi dada pela médica veterinária Joyce Igarashi Camilo.
Ela era a veterinária responsável pelo
frigorífico gaúcho Peccin, em 2014, e argumentou que a empresa “também
comprava notas fiscais falsas de produtos com SIF (Serviço de Inspeção
Federal) para justificar as compras de carne podre, e utilizava ácido
ascórbico para maquiar as carnes estragadas”.
Normélio Peccin Filho e Idair Antônio Piccin,
sócios do frigorífico, têm algumas de suas declarações mencionadas na
decisão, que deixam claro o aval para práticas ilícitas dentro das
normas de vigilância sanitária alimentícia.
Em uma delas, autoriza o uso de presunto podre
“sem cheiro” para a produção alimentícia. Em outra, Idair manda uma
funcionária comprar 2.000 quilos de carne de cabeça, para a fabricação
de linguiça.
IDAIR – Você ligou?
NAIR – Eu, sim eu liguei. Sabe aquele de cima lá, de Xanxerê?
IDAIR – É.
NAIR – Ele quer te mandar 2000 quilos de carne de cabeça. Conhece carne de cabeça?
IDAIR – É de cabeça de porco, sei o que que é. E daí?
NAIR – Ele vendia a 5, mas daí ele deixa a 4,80 para você conhecer, para fechar carga.
IDAIR – Tá bom, mas vamos usar no que?
NAIR – Não sei.
IDAIR – Aí que vem a pergunta né? Vamo usar na calabresa, mas aí, é massa fina é? A
calabresa já está saturada de massa fina, é pura massa fina.
NAIR – Tá.
IDAIR – Vamos botar no que?
NAIR – Não vamos pegar então?
IDAIR – Ah, manda vir 2000 quilos e botamos na linguiça ali, frescal, moída fina.
NAIR – Na linguiça?
IDAIR – Mas é proibido usar carne de cabeça na linguiça…
NAIR – Tá, seria só 2000 quilos para fechar a carga. Depois da outra vez dá para pegar um
pouco de toucinho, mas por enquanto ainda tem toucinho (ininteligível).
IDAIR – O toucinho, primeira coisa, tem que ver que tipo de toucinho que ele tem.