quarta-feira, 22 de julho de 2015
POR FAVOR, CREIAM EM MIM...
Parte 5
Três dias haviam se passado desde a segunda-feira, e eu não tinha ido trabalhar em nenhum deles. Estava mal-dormido, barbado e mal-alimentado, pois com exceção de alguns sanduíches e uns copos de leite, não havia comido nada nos três dias. Só comi sanduíches em consideração a minha mãe que chorava sem parar, achando que eu tinha ficado maluco. Ela não compreendia meu desleixo e muito menos a minha insistência em que ela contasse e recontasse tudo o que se passara em nossa casa desde que cheguei de viagem na sexta-feira até a segunda-feira. Ela perguntava por que devia me contar, se eu sabia tão bem quanto ela... e aí eu dizia que não me recordava, e ela chorava e me contava que eu não tinha saído de casa em dia nenhum depois que cheguei, que eu havia agido normalmente todos os dias até a segunda e que não saíra, justamente por ter vindo de férias e achar que devia ficar com ela, de quem eu estava afastado durante o tempo em que estive em São Paulo.
Eu morava sozinho com a minha mãe e era muito apegado a ela. Doía-me vê-la chorando por minha causa, mas tinha que berrar, gritar, toda vez que ela dizia que eu tinha agido normalmente no sábado e no domingo. Isso era impossível, porque não me lembrava de nada, só da coisa-voadora, do deserto, do desastre... Falei-lhe dessas coisas todas e aí foi que piorou... Ela dizia que eu estava doente e me fazia as vontades e perguntava se eu não queria ir à um médico...
Foi num momento de total desespero que lembrei-me de perguntar a ela se havia comprado o jornal de sábado. Disse que não. Quem comprava os jornais era eu, e sábado, não comprara nenhum.
Peguei algum dinheiro na carteira e saí porta afora, igual a um maluco. Fui na banca mais próxima de casa e implorei ao jornaleiro um jornal da semana que havia passado, mais precisamente, de sábado. eu contava com a ajuda da sorte, pois embora os jornais que não são vendidos sejam recolhidos depois, os jornaleiros, às vezes, guardam um ou outro exemplar desse ou daquele jornal. o homem olhou para mim sem entender e perguntou para o quê eu queria um jornal velho, de quase uma semana atrás.
_ Não importa! Você tem o jornal?
_ Não.
Quatro bancas depois, eu achei o que procurava. Minha aparência devia ser grosseira, barbado e relaxado como estava, pois o jornaleiro tratou-me como a um mendigo. Porém deu-me o jornal sem nada cobrar por ele. Eu parecia um animal em desespero...
Abri-o ainda na rua. Procurei, procurei, procurei... e finalmente comecei a rir... estava ali a notícia que eu procurava, que eu tanto procurava:
"ACIDENTE FATAL NA RIO-SÃO PAULO. NENHUM SOBREVIVENTE."
Voltei para casa achando que delirava.
Continua...
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