Nas barbas de Lula
A nova fase da Operação Lava Jato pôs Luiz Inácio Lula da Silva no centro das atenções e na mira da Justiça. Bastou a Polícia Federal prender dois dos mais poderosos empreiteiros do país – e de ligações muito próximas com o ex-presidente da República – para que o petista pusesse em marcha uma estratégia para sair do fogo cruzado. Lula sabe que é o alvo da vez, e age.
A prisão dos presidentes da
Odebrecht e da Andrade Gutierrez, ocorrida na sexta-feira, suscitou a
interpretação de que as investigações do Ministério Público escalaram
mais alguns degraus e se aproximaram do topo da cadeia alimentar.
Estaria, pois, perto de chegar a quem de fato mandava em todo o esquema.
O próprio entorno de Lula passou a
circular a sensação de que ele seria “o próximo alvo” dos juízes que
investigam a roubalheira nas estatais, tendo a hoje combalida Petrobras
no epicentro dos desvios bilionários. Quem mais se beneficiou do esquema
foi o ex-presidente, tanto na sua gestão quanto na de sua pupila; tanto
no governo, quanto fora dele.
Bastou o foco criminal virar-se
contra ele para Lula ensaiar, desde o fim da semana passada, um
movimento para tentar mudar a direção das atenções. Primeiro, num
encontro com religiosos, e depois, ontem, numa palestra pública, o
ex-presidente tenta agora transformar a discussão sobre o
enfraquecimento do PT no centro do debate.
Para Lula, o PT está “no volume
morto”, “está velho” e só “pensa em cargos”. É bem diferente do que ele
dizia, há apenas duas semanas, a seus liderados reunidos durante o
congresso nacional do partido em Salvador: “O PT continua vivo, bem
vivo”. Resta evidente que, com a mudança de foco, Lula busca sair da
alça da mira.
Fato é que interessa menos discutir
o esfacelamento do PT, no momento em que o partido é o que mais perde
filiados e atrai a menor parcela de simpatizantes em décadas. O que
importa, agora, é esclarecer a participação do ex-presidente e líder-mor
petista no esquema criminoso que assaltou o país nos últimos anos.
Interessa menos se a crítica de
Lula incomoda Dilma ou desnuda fragilidades de seu governo. Para
perceber o óbvio, a população não precisa de tradutores: a reprovação à
atual gestão e a consciência das agruras do dia a dia é latente na
maioria dos brasileiros. Só não enxerga a crise atual quem não quer.
Lula pode querer debater seu
partido com seus filiados. Mas antes precisará explicar-se a juízes,
investigadores e à sociedade brasileira tanto mais fique comprovado que o
esquema que pôs o Estado a serviço de seu projeto político foi
arquitetado por ele desde o mensalão. A hora agora é de prestar contas
com a Justiça e não de esticar o PT no divã – para o que sobrará tempo
suficiente quanto o partido estiver apeado do poder.
Fonte: Rede45
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