Padre citado no filme Spotlight por pedofilia é encontrado morto em cela do presídio
O
padre Bonifácio Buzzi, de 57 anos, se matou neste domingo numa cela do
Presídio de Três Corações, Sul de Minas. Na sexta-feira, ele foi preso
em cumprimento a mandado de prisão pela suspeita de abuso de duas
crianças na zona rural da cidade, em maio deste ano.
Buzzi, que já havia cumprido duas
penas pelo mesmo crime, em prisão domiciliar e em um manicômio
judiciário, foi citado em lista no fim do filme norte-americano
Spotlight – segredos revelados, vencedor do Oscar de Melhor Filme de
2016. A obra é um drama biográfico que revela como a Igreja Católica
acobertou abusos sexuais de crianças e adolescentes praticados por seus
sacerdotes.
A Secretaria de Estado de Defesa
Social (Seds) confirmou o suicídio. De acordo com o órgão, ele se
enforcou na madrugada deste domingo, com uma corda artesanal feita de
lençóis, conhecida como “teresa” no meio carcerário. O corpo foi
descoberto por volta das 7h, quando os agentes faziam a vistoria para
dar início às visitas do domingo na unidade prisional. Ele foi
encaminhado ao Instituto Médico Legal para exames que vão ajudar na
apuração das causas da morte.
Segundo a Seds, Buzzi estava sozinho
na cela, resguardado no espaço chamado de “seguro”, devido ao tipo de
delito cometido, que costuma ser punido pelos próprios presos. Ele
aguardava por uma triagem no sistema prisional e seria redirecionado a
outra penitenciária. A secretaria acrescentou que ele não era vigiado
durante a madrugada, pois não recebia tratamento especial em função da
repercussão de seus crimes.
O padre Bonifácio Buzzi voltou a ser
preso no fim da tarde da sexta-feira, em Barra Velha, em Santa
Catarina, há 35 quilômetros de Joinville. O delegado regional de Três
Corações, Pedro Paulo Marques, foi que comandou a operação e cumpriu o
mandado de prisão preventiva contra o acusado.
O delegado contou que, desde maio,
Buzzi vinha sendo investigado pelas denúncias de abusos sexuais de duas
crianças na cidade do sul mineiro. Junto com policiais catarinenses, o
delegado Pedro Marques seguiu para a casa de praia de uma irmã do padre e
se passou por comprador do imóvel. Quando Bonifácio Buzzi chegou ao
local para negociar, em uma bicicleta, recebeu ordem de prisão.
Marques disse que o padre não tentou
se esquivar ao ser informado de que seria preso, por ordem judicial, no
fim da manhã da sexta-feira. “O tempo todo ele se manteve frio,
tranquilo. Afirmou que não cometeu os crimes em Três Corações. E
justificou que sofre surto psicótico e às vezes não se lembra do que
acontece”, relatou Pedro Marques, hora depois da prisão de Buzzi.
A delegada Ana Paula Gontijo, de
Três Corações, é a responsável pelo inquérito que apura os dois casos de
abuso na zona rural da cidade. De acordo com as investigações, o
padre, depois de ser colocado em liberdade do Manicômio Judiciário
Jorge Vaz, em Barbacena, na Região Central, seguiu para o Sul do estado,
com carta de recomendação, onde reiniciou o sacerdócio na Comunidade
Evangelizadora Magnificat (CEM), que fica no km 88 da MG-167, entre Três
Corações e Cambuquira.
Depois de conquistar a simpatia dos
fiéis, maioria de pessoas humildes, sem informações sobre seu passado,
Bonifácio Buzzi teria recomeçado sua prática de abusos sexuais. Dois
meninos com idades de 9 e 13 anos, da comunidade, teriam sido os novos
alvos dele, que em dias diferentes foram atraídos pelo religioso, sob o
pretexto de fazer uma pescaria.
No local, Buzzi teria usado o
argumento de que havia carrapatos para que as crianças tirassem suas
roupas, e então praticar os abusos. O delegado Pedro Marques garante que
há elementos concretos da prática criminal, de tal forma que levou o
juiz Tarcísio Moreira de Souza, da comarca de Três Corações, a expedir
mandado de prisão preventiva.
Bonifácio Buzzi já teve duas
condenações pelo mesmo crime: em 1995, ao ser flagrado abusando de dois
meninos com 10 e 15 anos, em Santa Bárbara, Região Central, ficou quatro
anos em prisão domiciliar; em 2001, manteve relação sexual com um
menino de 9 anos, depois de celebrar missa em uma igreja do Distrito de
Mainart, em Mariana, na mesma região. Pelo crime, foi condenado a 20
anos, mas foi colocado em liberdade depois de cumprir parte da pena.
Quatro cidades brasileiras na lista do Spotlight
Em 2015, o nome de Bonifácio Buzzi
apareceu na lista internacional de sacerdotes da Igreja Católica que
abusaram sexualmente de crianças e adolescentes exibida no fim do filme
norte-americano Spotlight – segredos revelados, ganhador do Oscar de
2016, como “Melhor Filme”.
Spotlight, dirigido por Tom McCarthy
e estrelado por Michael Keaton, Mark Ruffalo e Rachel McAdams, também
eleito o melhor de 2015 pela National Society of Film Critics
(Associação Nacional de Críticos de Filme dos Estados Unidos), narra a
história de como a Spotlight, a editoria de repórteres especiais do
americano The Boston Globe, desvendou como a Igreja Católica acobertou
crimes de pedofilia cometidos por quase uma centena de padres em Boston.
A reportagem rendeu ao periódico o
Pulitzer, o mais importante prêmio de jornalismo do mundo. Ao fim do
filme, enquanto o público se prepara para ir embora, surge a lista da
vergonha. Quatro cidades brasileiras figuram nela: Rio de Janeiro,
Franca (SP), Arapiraca (AL) e Mariana.
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