quarta-feira, 2 de setembro de 2015
POR FAVOR, CREIAM EM MIM...
Parte 10
Não pensei que naquela manhã fosse perder meu chefe.
Eu explico:
Assim que cheguei no serviço, todos os empregados só falavam da saída do nosso chefe. Os funcionários o adoravam.
Eu, em especial, seria muito afetado com a saída dele, pois já conseguira o comando do Departamento Pessoal e ficava em contato constante com o chefe geral, fosse ele quem fosse. Por isso eu seria afetado. Meu chefe era ótimo, e não sabia se quem ocuparia seu lugar era também uma pessoa de fácil trato.
Entrei na minha sala e me dispus a trabalhar, enquanto esperava a comunicação oficial; Ela veio em forma de chefe. Ele abriu a porta da minha sala e comunicou:
_ Davi, creio que as fofocas já chegaram por aqui...
_ Infelizmente, sim. Por quê você vai sair?
_ Recebi proposta da matriz para ir trabalhar nos Estados Unidos com eles. Minha esposa é de lá, e quer voltar para a terra natal... aceitei._ Falou resignado_ Além do quê, a grana é melhor.
_ Dólar. Very good!_ Brinquei.
_ Pois é. gosto do Brasil, mas, é um país pouco...
_ Organizado?
_ Talvez. O fato é que a terra do Tio Sam me é mais conveniente no momento. Sei que vou sentir a sua falta. Se pudesse te levava, pois você é um ótimo funcionário, mas recomendarei você por lá.
_ Lhe desejo boa sorte._ Disse, apertando sua mão num comprimento sincero.
_ Grato._ Me abraçou_ Venha, vou te apresentar para a sua "chefa". Ela está ma minha antiga sala.
_ "Chefa"??
_ Exatamente. a chefia foi entregue a uma mulher. Muito bonita, por sinal.
Acompanhei-o até a sala, onde a nova "chefa" se encontrava, pelo jeito, disposta mesmo a trabalhar. Estava de costas para nós de pé em um banquinho, fazendo uma arrumação num arquivo.
_ Elizabeth, aqui está o meu braço direito na filial. Espero que ele seja tão útil a você, como foi para mim.
Fiquei um pouco encabulado com o quê o meu ex-chefe disse. Mas não fiquei mais que a nova patroa, que quase cai do banco com o susto, pois chegamos de supetão.
_ Oh! Sim, me desculpem. Estou limpando aqui... só um instante...
Ela disse isso ainda de pé no banco e de costas para nós, depois desceu e se virou para me cumprimentar.
_ Muito prazer, Davi. Já me falaram de você. Espero que possamos nos dar bem.
Ela disse isso sorrindo e me olhando bem nos olhos. Era uma mulher realmente bonita, mas também era a mesma mulher que eu persegui de carro com meu amigo. era a mesma mulher que morreu no acidente. Era a mesma mulher que gritava em desespero naquela noite de Janeiro que eu tanto quis apagar. Quase desmaiei. Não podia ser verdade. Aquela pessoa estava morta.
_ Você está se sentindo bem?
_ Ah... sim... claro... muito prazer.
Comecei a suar frio, quando apertei a mão dela, e a pergunta que fiz, saiu de minha boca como um raio:
_ A sra. tem irmã?
_ Por quê?
_ ... A sra. se parece um pouco com alguém... alguém que conheci...
Senti que a pergunta a afetou. Ficou séria, pensou um pouco e respondeu-me constrangida:
_ Tinha uma irmã gêmea, mas ela faleceu faz alguns anos num acidente rodoviário.
Só eu sabia como aquela resposta tinha me aliviado. A mulher que persegui, que estava naquele ônibus, era a irmã gêmea de minha nova chefe. Estava explicada a semelhança. O destino brincava comigo outra vez.
_ Sinto muito... é que eu pensei...
_ Eu entendo. _ Disse ela_ Muitas pessoas se parecem neste mundo e às vezes nos confundimos.
Ficou desconfiada. Eu podia perceber e meu ex-chefe também, tanto que, começou a falar de sua saída para distrair-nos a atenção.
_ Bem, você já conhece o homem, Elizabeth. Ele agora é o seu subordinado. Quanto a mim, vou deixando o barco.
_ Sua saída e minha chegada estão sendo rápidas. Temo que este fato atrapalhe um pouco o andamento da filial.
_ Davi se encarregará de não deixar que isso aconteça, Elizabeth.
_ Fico insegura. Por quê a urgência da matriz?
_ Creio que "time is money" _ Atalhei. O homem riu da brincadeira, apertou as nossas mãos e saiu desejando-nos felicidade.
Fiquei só com Elizabeth. Olhei-a melhor. Devia ter uns trinta anos, era muito bonita e muito jovem para o cargo que ocupara. Devia ser dessas mulheres-prodígio, que apesar da discriminação sexual, conseguiu seu lugar ao sol sem ter que se violentar demais.
_ Qual a sua primeira ordem?_ Ela sorriu.
_ Vamos nos tratar informalmente. Me chame só de Elizabeth, OK?
_ OK, só isso? Não gostaria de correr a empresa?
_ Gostaria. Façamos isso. Me mostre tudo por aí e depois vamos rever algumas fichas. Quero me inteirar de todo o andamento daqui.
Enquanto explicava-lhe todas as funções existentes, rotinas, e essas coisas de escritórios e firmas, fiquei pensando se algum dia teria a chance de perguntar novamente pela sua falecida irmã. Será que ele havia contado para Elizabeth o que acontecera na viagem daquela sexta-feira? O quê Elizabeth diria se soubesse que sua irmã morreu por minha causa? Eu a persegui de carro... morreu por minha culpa. Provavelmente, iria me odiar pelo resto da vida. No mínimo, eu perderia o emprego. Mas de quê me importava o emprego agora?
Todo o passado voltara a tona.
Minha vontade de desvendar aquele mistério ressurgiu tão forte quanto antes, só que menos desesperada, pois a vida me ensinara a ser cuidadoso nas coisas que fizesse.
Tinha que me aproximar de Elizabeth...
Continua...
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